Em A hora da estrela, de Clarice Lispector, nos são contadas as desventuras de Macabéa, uma imigrante nordestina que trabalha em um subemprego como datilógrafa, no Rio de Janeiro, e vive sem consciência de si mesma e daquilo que a rodeia. A existência e as desventuras de Macabéa chegam ao leitor através do narrador-personagem Rodrigo S. M, que não se limita a narrar a vida da infeliz nordestina. Ele realiza uma grande reflexão sobre as relações entre literatura e realidade, e sobre o papel da linguagem poética como desveladora de sentido. No filme homônimo de Suzana Amaral (1985), se há um narrador, este se faz presente no olhar que dirige a câmera e no processo de montagem. Mas Rodrigo S. M. propriamente dito é suprimido. Isto conduz o filme a um direcionamento diverso daquele advindo das questões presentes na narrativa de Clarice. No texto fílmico, questões tão agudas para Rodrigo S. M., como o drama do ato de escrever e do sentido da literatura — em um mundo que instrumentaliza a linguagem e a vida —, não ganham espaço. No entanto, é imprescindível lembrarmos que o presente trabalho não intenciona, com a discussão, sobrepor uma obra a outra, pois não se trata de hierarquizar diferentes produções artísticas, mas, sim, de dialogar sobre a relevância do narrador Rodrigo S. M.
Palavras-chave: Narração. Questão. Obra. Rodrigo S. M.