Watt (1990) esclarece que o gênero romance busca retratar todo o tipo de experiência humana e não só as que prestam a alguma perspectiva literária. O gênero romance é um condutor literário coerente de uma cultura, que a partir do século XVIII, conferiu valor grandioso à originalidade. Watt pontua a evidente semelhança entre o gênero romance e o estilo literário realista francês, conjunto de técnicas narrativas que se encontram tão frequentemente no gênero romance e raramente em outros gêneros literários. Isso ocorreu porque este gênero proporcionou aos romancistas a possibilidade de demonstrar as mazelas da burguesia provinciana no século XIX. Nesse sentido, a presente pesquisa surge do interesse em comparar a semelhança entre as personagens Emma Bovary e Luíza dos romances Madame Bovary e O primo Basílio. Embora Flaubert tenha declarado detestar o Realismo, sua obra é considerada o marco inicial desse movimento. Adultério feminino e crítica à sociedade burguesa eram temas que fugiam ao estilo literário romântico. Coube a Flaubert introduzir o novo e quebrar valores estabelecidos. Conforme Leite (2004), Flaubert conduz com maestria a narrativa objetiva, aparentemente contada por si própria. O autor instaura, em suma, uma nova forma de narrar, utilizando-se de um narrador onisciente neutro, bem como da onisciência múltipla e seletiva, recursos que permitem que o narrador demonstre o ponto de vista das personagens. Flaubert é considerado uma espécie de criador do discurso indireto livre, pois aprimorou esse método narrativo, influenciando vários romancistas a sua frente, dentre eles, Eça de Queirós, considerado pai do Realismo em Portugal. Interessanos analisar de que maneira as personagens se assemelham, do ponto de vista ideológico, e como esses valores influenciam suas atitudes dentro da narrativa, demonstrando assim os principais aspectos do Realismo presentes nas duas obras em foco.