Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Animalidade e resistência biopolítica em O corpo interminável
Luciano Mendes Duarte Júnior (Universidade Federal de Goiás)
O livro O corpo interminável (2019), da escritora brasileira Claudia Lage possui uma narração não cronológica que articula memória e esquecimento numa tentativa de narrar as atrocidades da ditadura militar brasileira. Tanto Daniel quanto Melina, dois personagens centrais da narrativa, são, cada um a seu modo, órfãos da ditadura, e tentam reconstituir um passado repleto de violência e de incertezas. Isso posto, esta análise tem por objetivo discutir o romance em questão tomando como chaves de leitura as discussões acerca da animalidade e da biopolítica, a fim de tentar compreender como os corpos no romance são animalizados para, então, serem deslegitimados enquanto corpos de direito. Estudar o animal escrito, ou seja, o animal presente na literatura, também significa estudar a nossa relação enquanto animais humanos com outros seres animais, explorando as fronteiras entre humanidade e animalidade tensionadas na obra em questão. Segundo Giorgi (2016), a partir da década de sessenta, o animal passa a aparecer cada vez mais como um signo político nos textos literários latino-americanos, indicando uma tendência que perdura até hoje. Júlia, mãe de Daniel e desaparecida durante a ditadura militar brasileira, luta contra a possibilidade de ser reduzida a um mero corpo, embora isso continue acontecendo reiteradamente. Sua associação ao mundo animal é uma das maneiras que seus algozes encontram de suspender ainda mais seus direitos e tentar justificar suas sessões de tortura, principalmente nas passagens em que a chamam de “porca”. Contudo, é por meio de seus próprios corpos que as personagens resistem. É ao ressignificar seus corpos inseridos em um ambiente de desumanização e violência extrema que as personagens são capazes de encontrar conforto umas nas outras. Esse contrapoder reafirma as subjetividades que o regime ditatorial tenta o tempo todo negar. Trata-se de uma resistência biopolítica.
Palavras-chave: Animalidade; Biopolítica; O corpo interminável.
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