De 2003 a 2014, 33 livros foram indicados na categoria Poesia do Prêmio Portugal Telecom, contemplando autores como Armando Freitas Filho, Augusto de Campos, Carlito Azevedo, Cláudia Roquette-Pinto, Eucanaã Ferraz, Manoel de Barros, Nuno Ramos. A despeito de quaisquer questionamentos quanto à legitimidade desse (ou de qualquer outro) prêmio, o fato é que se delineia aí um recorte da produção poética brasileira contemporânea. Percebe-se nele, de um lado, a maciça presença de uma preocupação com problemas intrínsecos à subjetividade e de torneios metapoéticos; de outro, a rarefação da abordagem de problemas específicos ligados explicitamente a mazelas sociais, coletivas, públicas: por exemplo, as múltiplas formas de manifestação da violência comparecem em raro nesses livros. Na contramão da tendência de ensimesmamento solipsista e/ou formal, contudo, alguns textos trazem decididamente à tona facetas e dimensões da violência como: a fome (“Os dois urubus”, Nelson Ascher), o trabalho infantil (“Crianças no semáforo”, Alberto da Cunha Melo), a tortura (“Memória das sensações 1”, Sebastião Uchoa Leite), a coisificação (“Música para modelos vivos movidos a moedas”, Ricardo Aleixo). São esses “poemas de testemunho” que vão nos interessar, considerando, com Theodor Adorno, que “a referência ao social não deve levar para fora da obra de arte, mas sim levar mais fundo para dentro dela” (“Palestra sobre lírica e sociedade”).
Palavras-chave: Poesia brasileira. Poesia de testemunho. Literatura de testemunho.