As narrativas em primeira pessoa com traços biográficos são uma forte característica da literatura brasileira contemporânea. Sob o conceito guarda-chuva de “escrita de si”, há diferentes gêneros literários, como biografias, autobiografias, romances autobiográficos, autoficções, autobiografias ficcionais, dentre outros. A partir das reflexões de Philippe Lejeune, Alfonso de Toro, Manuel Alberca, Leonor Arfuch e Diana Klinger, este artigo debate os diferentes conceitos com o objetivo de discutir que tipo de escrita de si é possível ser feita em uma época em que se postula a impossibilidade de narrativas totalitárias e fundadas em um sujeito unívoco, bem como a possibilidade de se distinguir ficção e realidade em literatura. A hipótese defendida neste trabalho é que a autoficção, entendida como performance, é uma tentativa de criação de um mito do autor, um processo de construção de um “eu” que se dá no ato da escrita. O autor da escrita de si contemporânea não evita a flutuação de sentidos e não tem a pretensão de representação de uma identidade fixa, em uma época de identidades múltiplas, fragmentadas e pouco rígidas, em que o estrangeiro – o estranho – parece ser o paradigma.
Palavras-chave: Escrita de si. Autobiografia. Philippe Lejeune. Autoficção.