Desde seus primeiros textos críticos, o poeta, tradutor e ensaísta, Haroldo de Campos, demonstra significativa preocupação com a questão da tradição e da historiografia literária. Atestam tais preocupações trabalhos como: “Poesia e paraíso perdido”, “Por uma poética sincrônica”, “Tópicos (fragmentários) para uma Historiografia do c o m o”, “O Sequestro do Barroco na formação da Literatura Brasileira”, “Texto e História”, entre outros. Procurando seguir o percurso crítico de Haroldo, é possível perceber, mesmo com suas várias nuances de pensamento, pelo menos um fio condutor, o qual consiste, grosso modo, numa forte contestação da ideia de historiografia literária (poder-se-ia pensar em “cânone”) enquanto algo fixo e imutável. Para o poeta-crítico, é preciso ter sempre olhos abertos para o passado que ainda vigora no presente: a tradição viva. Desse modo, e tomando de empréstimo a discussão de sincronia e diacronia proposta por Roman Jakobson, Haroldo desenvolve sua ideia de poética sincrônica, na qual, dentre outras coisas, busca-se a valorização mais de obras (pontos luminosos) do que de contextos generalizantes e, ainda, tende a rever criticamente a noção diacrônica-linear da historiografia tradicional, chegando mesmo a propor uma visão “constelar” da tradição literária. Refletindo sobre essas teorizações haroldianas, o artigo chega à seguinte problematização: é possível pensar numa prática dessa (re)visão da historiografia dentro da escola? O professor, apropriando-se do seu papel de crítico, teria margem para trabalhar numa perspectiva da poética sincrônica? Enfim, quais os pontos práticos da teoria?
Palavras-chave: Haroldo de Campos. Historiografia Literária. Ensino de Literatura.