É no cenário místico e doloroso de Beloved (1987) que Toni Morrison vai reavivando as memórias e as dores marcadas no homem negro pós-colonial, tirando-o de seu silêncio. E é dessa forma que nos deparamos com a presença marcante da interferência da memória coletiva nas palavras da escritora durante a narrativa, na qual ela vai retomando eventos que vão sendo recontados através de uma memória que ficou enraizada na alma dos protagonistas da segregação. Morrison, ao escrever sobre as coisas horríveis vividas pelo seu povo, quebra os silêncios trancados no passado e tenta preencher as lacunas entre um passado ainda vivo no presente, numa tentativa de reconstrução de uma identidade através das memórias coletivas de seu povo. O adormecimento de uma memória faz com que outra acorde, a memória que se quer impor e inserir nesse novo contexto desprovido de propriedade e autonomia para tudo o que restou das culturas das minorias. Essa memória reconstruída vai cuidadosamente mostrando, valorizando e reiterando a importância de cada traço cultural existente e ainda latente nas pessoas, trazendo-os de volta ao presente e abandonando dessa forma o apagamento e o silenciamento sob o qual estavam envoltos. Pretendemos com esse estudo apresentar um panorama sobre a forma através da qual algumas personagens de Morrison saem do mundo silencioso e traumático, tentando buscar uma espécie de superação para parte do trauma vivido e acarretado pela segregação, assim como pela diáspora. Para o desenvolvimento dessa discussão, recorreremos aos trabalhos de Homi Bhabha (2007), Maurice Halbwachs (2004), Beatriz Sarlo, (1997), Andreas Huyssen (2007), entre outros.
Palavras-chave: memória. segregação. silenciamento. superação. Toni Morrison.