Este artigo apresenta a canção popular brasileira como fenômeno inseparável da performance, bem como da volatilidade das culturas globais, sem fronteiras e tecnológicas do mundo contemporâneo. Nesta perspectiva, da intimidade tímida à extravagância pública da cancionista Cássia Eller, discutimos a performance mais que dicotômica da artista para compreendermos a sua poética e os fenômenos culturais que expressa com uma voz que age no seu corpo todo: gestualidade e afetos. Para tanto, é preciso restabelecermos o equilíbrio entre o olho e o ouvido, como já propôs Paul Zumthor, e abandonarmos o privilégio da escrita (e o “consequente falso universalismo que encobre as diferenças”) para percebermos e experienciarmos os movimentos dos corpos integrados a uma poética que traduz a possibilidade de contato com múltiplas vozes – intérprete, ouvinte/espectador, tecnologia, cotidianidade – não só no momento em que a performance se realiza, mas em todos os momentos em que ela é produzida e reproduzida pelas diversas mídias. Assim, a performance mais que dicotômica de Cássia Eller representa formas poéticas que, ao contrário de muitas teses pessimistas, possibilita o conhecimento do diverso, reúne afetos e “impossibilita a in-diferença”.
Palavras-chave: Cássia Eller. Paul Zumthor. Performance.