Em seu texto sobre Hilde Domin, “a poeta do retorno”, Hans-Georg Gadamer (GADAMER, 1993) não restringe a análise do exílio à experiência concreta de perda da pátria, que é vivida em três momentos: o momento em que se deixa o país de origem, o momento em que se retorna e se vive a perda da pátria de acolhida e por fim o momento em que se percebe que não se retorna nunca para a pátria, que ficou no passado. Mas o ponto alto da análise de Gadamer é alcançado apenas quando – certamente a partir da leitura da linguagem, do próprio e do impessoal em Ser e tempo de Martin Heidegger (HEIDEGGER, 1988) – o retorno do exílio é compreendido como um retorno à língua e à criação poética, como uma superação do exílio que define todo ser aí. Essa análise de Gadamer tem para nós a mesma importância de toda análise que se propõe com êxito a investigar por que poéticas configuradas pela experiência do exílio podem falar tão de perto àqueles que não a viveram, que nunca saíram do “seu lugar”. Neste trabalho tentaremos, a exemplo do que fez Gadamer, entender o tema do exílio como um tema que é próprio a todos. Para tanto, partiremos da leitura dos poemas “Imperialismo Cultural”, de Adriana Lisboa (LISBOA, 2011), e do poema “Aqui e lá” da poeta de língua alemã Rose Ausländer (AUSLÄNDER, 1984), sempre guiados pela análise do caráter universal da linguagem que é afirmado – como nos mostra Hegel no primeiro capítulo da Fenomenologia do Espírito (HEGEL, 1992) – exatamente ali onde ela se deseja absolutamente particular.