Diversas são as razões que levam um escritor à tradução literária, seja por exercício de estilo, gosto pelo escritor e sua obra, aperfeiçoamento na língua estrangeira em questão, prazer ou necessidade, quando tal prática é realizada por um escritor consagrado em sua língua o resultado torna-se duplamente profícuo, pois neste caso é-nos permitido refletir, entre outros temas, sobre a dupla presença poética no texto traduzido. Considerando que a tradução literária não se limita a verter uma obra em outra língua, mas antes busca (re)criar em outra cultura aspectos que, por vezes, não possuem equivalente direto sem, para tanto, descaracterizar em demasiado o “texto-fonte” (Cf. ÁVILA, 2013), buscar-se-á entender como se dá essa relação através da análise das traduções do segundo volume de A la Recherche du Temps Perdu de Marcel Proust – A l'ombre des jeunes filles en fleurs – (1920) empreendida pelos escritores-tradutores Mario Quintana (1951) e Fernando Py (2002). Após descrever o horizonte tradutivo de ambos, serão analisados temas que possam contribuir para uma reflexão acerca desta interferência poética da parte dos escritores-tradutores, presente sob a forma de regionalismos, paratextos, bem como de elementos referentes às tendências deformantes (BERMAN, 1999), a fim de refletir sobre este novo texto híbrido, em que o tradutor se torna co-auteur (LADMIRAL, 1994), num ato semelhante ao antropofágico modernista, devorando o texto-fonte, absorvendo deste certos traços e recriando outros segundo sua pulsão criativa.
Palavras-chave: tradução literária; escritor-tradutor; Marcel Proust; Mario Quintana.