Este trabalho propõe uma investigação das figurações do comum na poesia de João Cabral, a partir da análise das concepções de escrita postuladas pelo poeta. Nesse sentido, a investigação aqui proposta tem como objeto menos um tema do que uma certa concepção de atividade poética. O que se pretende, portanto, é um exame da inscrição do comum no modo como João Cabral concebe o próprio ato de escrita. Com efeito, são várias as modulações do comum na poesia cabralina. Analisá-las é uma tarefa que requer a consideração de tópicos e questões capitais no contexto da obra do poeta: subjetividade, negatividade, comunicação, política, ética, estética; afinal, é a própria possibilidade da palavra poética que parece estar em jogo, num movimento de criação artística que lembra de perto o conceito de inoperatividade dos usos da língua, proposto por Giorgio Agamben (2007), na esteira do désoeuvrement discutido por Maurice Blanchot (2011). Acredita-se que uma investigação empreendida sob tal perspectiva possa contribuir para uma reflexão sobre como a questão do comum manifesta-se, em termos de linguagem, na obra de um dos poetas mais basilares da poesia produzida no Brasil a partir da segunda metade do século XX.