Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
A subjetividade da babá na literatura brasileira: os exemplos de Quirina, de Lima Barreto (Babá, 1904), e de Maju, de Giovana Madalosso (Suíte Tóquio, 2020)
Mariana Filgueiras de Souza (Universidade Federal Fluminense)
Na história literária brasileira, muitas vezes marcada pelo racismo, classismo e misoginia da sociedade letrada que a escreve, é recorrente que personagens trabalhadoras domésticas – na maioria das vezes, mulheres pobres que exercem a função de faxineiras, diaristas, lavadeiras, mucamas, amas, cozinheiras e babás, as mulheres que "abrem o mundo" (VERGÈS, 2020) – não tenham nome, falas ou força dramática. São personagens geralmente relegadas à estereotipia, ao alívio cômico ou à marcação de contraste (RONCADOR, 2008) com outros personagens. No caso específico das amas-de-leite e das babás, que têm a particularidade da intimidade com a primeira infância dos filhos dos patrões, há dois exemplos que fogem à regra: o conto Babá, de Lima Barreto, provavelmente escrito em 1904, no qual o narrador investiga de maneira até então inédita a subjetividade da personagem Quirina, mulher negra, centenária e escravizada, que servia como babá a famílias de posses no pós-Abolição e que teve seus próprios filhos sequestrados pelos patrões; e o romance Suíte Tóquio, de Giovana Madalosso, de 2020, que mais de um século depois apresenta, pela primeira vez, uma babá como protagonista de um romance. Na trama de suspense, a babá Maju é quem sequestra a filha da família que a emprega – um dos medos recorrentes na relação entre patroa e babá, baseado na fantasia da mulher negra como mãe ideal (KILOMBA, 2019). O trabalho vai mostrar pontos de contato e de contraste entre as duas obras que indicam alguns aspectos da transformação da presença da babá na literatura brasileira ao longo do século XX.
Palavras-chave: trabalho doméstico; subalternidades; racismo; babá; subjetividade
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