No poema “Arte final para Gregório”, o crítico e poeta Augusto de Campos (1986, p. 90) nos dá o mote para a realização deste trabalho: “[...] ele é verbivocovisual/ fanomelogopaico/ ou o primeiro antropófago experimental/ da nossa poesia”. A figura exponencial de Gregório de Matos tem sido, ao longo dos anos, motivo de muitas discussões teóricas, desde o seu aparecimento em praça pública, no século XIX, até o século XX, quando foi resgatado pela vanguarda modernista. Nesse panorama, ainda existem dois lados antagônicos quando se trata da poesia de Gregório de Matos, os que o defendem e os que o acusam. Os primeiros defendem a posição de que o poeta baiano foi a primeira voz literária no Brasil (voz mais audível que outras anteriores) alçada sob as bases do Barroco, e os outros o acusam de ser ele um mero imitador dos poetas espanhóis do século XVII, sem, portanto, ter contribuído significativamente para a formação da Literatura Brasileira. Há também os que sequer atestam sua existência, sendo Gregório de Matos fruto do folclore da época ou apenas um nome sob o qual se assentou um conjunto de poemas. Este trabalho, que é fruto de uma pesquisa de doutoramento, segue o pensamento daqueles que defendem o poeta como barroco-antropofágico, devorador de culturas, com participação ativa no processo de formação da nossa identidade cultural e literária. Ancorado pelo pensamento crítico dos irmãos Campos, nosso trabalho busca observar e discutir a hipótese de que Gregório de Matos foi nosso primeiro antropófago, sendo possível enxergar em seus poemas as características intrínsecas do movimento antropofágico, idealizado por Oswald de Andrade no século XX.
Palavras-chave: Antropofagia; Gregório de Matos; Barroco.