Em sua monografia, Playing in the Dark. Whiteness and the Literary Imagination (Brincando no escuro. Brancura e o imaginário literário), Toni Morrison (1993) analisa duas entidades blackness (negrura) e whiteness (brancura) que permeiam a sociedade e a literatura estadunidenses. Mediante diversas técnicas retóricas, representativas e simbólicas, a negrura inferioriza e desvaloriza as pessoas negras, enquanto a brancura promove e valoriza a beleza, a cultura, a religião, os costumes e valores forjados como sendo dos brancos. Neste trabalho, investigamos entidades semelhantes num pequeno perfil da literatura brasileira. No Brasil, a elite branca tem utilizado uma ideologia que apresenta uma imagem nacional mestiça para unir o país. Essa imagem mestiça foi utilizada para promover a concepção do Brasil como uma nação em que vigora a democracia racial. Entretanto, nosso estudo evidencia que, apesar da forjada identidade mestiça, uma estética tem se desenvolvido na literatura brasileira e em outras práticas culturais que valorizam a beleza e a cultura entendidas como brancas mais do que as forjadas como sendo dos negros. A concepção literária e social do mestiço e da mestiçagem é altamente ambígua, apresentando-se como um espaço indefinido e transitório, que inclui enquanto exclui. A fim de fazer reflexões sobre a construção de brancura, negrura e mestiçagem no contexto brasileiro, nossa análise pauta-se no romance Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro (1984) que, em sua maior parte, desconstrói essas construções.