A figura, seguindo uma via benjaminiana, é o que oscila entre dois mundos e pode conectar ao mesmo tempo as diversas experiências, tornando-as comunicáveis através de sensações, imagens e histórias, contra a ideia de que, influenciada por Platão, há somente uma linguagem, uma verdade, a verbal, a racional e a abstrata, é o que anuncia o pensador italiano Franco Rella, nos trabalhos que vem desenvolvendo nas últimas décadas. Essa consideração sobre o tema, embora breve, guiará este trabalho, que pretende pensar como as vivências do corpo estão carregadas de figuras do tempo, ou seja, de memória e de pathos, entendido aqui como paixão, dor e experiência. Para isso, além de retomar as noções de alguns pensadores que constroem articulações sobre a temática, serão analisados dois personagens de Osman Lins do livro de contos Os gestos (1957), os quais vivem no silêncio da palavra e explicitam suas experiências por meio das sensações do corpo, das imagens do passado, da espera futura pela vida, pela morte, o que coloca em jogo a memória como elemento catalisador do tempo das figuras.