O fantástico é um gênero que se configura a partir da hesitação comungada entre personagem e leitor acerca da naturalidade de um dado acontecimento narrativo. Nisso concordam a maioria dos teóricos do gênero. Para que tal hesitação seja alcançada é necessário uma série de estratégias narrativas, entre elas a ambiência. Daí a importância da construção do espaço ficcional para o gênero. Marisa Martins Gama-Khalil comenta que Edgar Allan Poe, autor de contos no gênero, “valoriza o espaço ficcional como base do efeito desencadeado pelo texto literário”, em especial o espaço fechado (GAMA-KHALIL, 2012, p.31); para os teóricos Louis Vax (1972) e Felipe Furtado (1980) o espaço híbrido, ou seja, o jogo entre ambientações fechadas e abertas propicia não só surgimento do insólito, como mantêm a ambiguidade narrativa tão crucial para o fantástico. O Romance gótico, pai do gênero em causa, catalisou imagens, temas e ambiências verdadeiramente tensas, escuras, lúgubres e claustrofóbicas que foram retomados pelo gênero fantástico. A ambientação gótica surge a serviço da construção e manutenção da ambiguidade narrativa, bem como da formulação da hesitação essencial à configuração do gênero fantástico. O presente trabalho, portanto, pretende analisar a construção do espaço gótico e sua importância para a deflagração daquilo que Todorov (2012) chamou de “efeito fantástico” em contos de Álvares de Azevedo e Fagundes Varela.