O texto propõe reflexões sobre a literatura marginal contemporânea a partir da análise de representações de espaços em contos dos livros Cela forte, de Luís Alberto Mendes, e 85 letras e um disparo, de Sacolinha e de poemas do livro De passagem mas não a passeio, de Dinha. A literatura constitui-se como um campo de disputas pelo acesso à voz, pela possibilidade de difusão de representações do mundo, pelo reconhecimento do público e dos pares, segundo Regina Dalcastagnè e Anderson Da Mata (2012). Essa questão aponta para o funcionamento, na acepção de Pierre Bourdieu (1996), do campo literário, espaço em que ocorre um conjunto de relações e práticas sociais relacionadas aos agentes envolvidos com a produção, consumo e reprodução da literatura, que geram critérios de legitimidade e prestígio do texto literário. O estudo proposto insere-se nessa chave de concepções. As produções literárias delimitadas foram publicadas pela Global Editora, na Coleção Literatura Periférica, cujos autores moram e têm origem na periferia. Nos três livros podem ser observadas representações de si, do outro e de espaços diversos, marginalizados ou marginalizantes. Ao publicizarem essas representações, relativas a vidas e vozes periféricas, silenciadas, os autores permitem que elas ganhem voz. Os traços da periferia a que alude o título do texto estão presentes duplamente nessas escritas: tanto por meio da origem dessas vozes, marginalizadas, que buscam legitimar sua dicção, quanto por meio do espaço basilar que origina o traçado – a periferia, múltipla, revisitada, posta em meio a embates com outros espaços.
Palavras-chave: Produções literárias marginais contemporâneas. Representações de espaços. Luis Alberto Mendes. Sacolinha. Dinha.