No romance O Nome da Rosa (1980), de Umberto Eco, o relato do narrador, o velho
abade Adso de Melk, evoca dois diferentes modos de mnemotécnica, ou a arte da memória: o
medieval e o clássico. E compreendendo, conforme preconiza De Man, que narrar-se é desfigurarse:
é desconstruir a imagem do “eu” e reconfigurá-la pela linguagem, transformando-se num
outro, observa-se como o jovem Adso, já desfeito pelo tempo, existe apenas no tecido da memória
do velho e prudente narrador, e só se tornará presente pelo seu relato, [re]engendrado na trama
urdida por memória pessoal, coletiva e histórica. Moldado em escrita, ruína de si mesmo, Adso
faz-se personagem e desconfigurando o eu do narrador.