A literatura sempre foi um espaço bastante revelador. Cabe discutirmos, no entanto, como o texto literário, partindo do princípio de que cremos ser ele um reflexo não imediato da sociedade, se torna importante campo de embates, especialmente em um cenário hostil, a saber, o mundo das ideologias massacrantes e niveladoras; o ambiente da formação da má consciência, nos dizeres de Adorno (2003). O que devemos buscar, então, é verificar de que maneira as vertentes sociais, sobretudo as que menos expressão têm, aparecem nos textos de literatura brasileira e dão o mote que impulsiona a própria criação literária nesse sítio, resguardado o seu valor estético. Diante disso, o presente trabalho cumpre o papel de fazer uma leitura do conjunto de obras de Bernardo Élis pelas vias, principalmente, da representação social e histórica dos ermos de Goiás e, por isso mesmo, do próprio conjunto social brasileiro. Assim, a poesia, o conto, o romance e os ensaios aparecem aqui observados a partir do consórcio entre as camadas subjetivas e sociais espoliadas e as vertentes artísticas, propiciado pelo o diálogo estrito entre a literatura e a sociedade, tão bem representado por Élis quando se propôs a revelar a vida do homem brasileiro marginalizado. Essa investida foi o que compôs o mote, percurso e desfecho do que intitulamos de “projeto de produção literária” desse presentemente centenário autor, dando a perceber um caminho de “conhecimento da necessidade”, para lembrar as palavras de Marx (2004). Perceber como a abordagem social, marginal e subalterna acontece no conjunto da obra do autor é nosso intuito aqui. Entendemos que, no caso do projeto de escrita do corumbaense, a liberdade artístico-ficcional faz com que a sua literatura transite nas esferas da sociedade brasileira mais genuína, abordando-as e fazendo compreender de forma mais humana e complexa o homem brasileiro.
Palavras-chave: Literatura. Subalternidade. Bernardo Élis