“A superioridade do artista” em relação ao político-ideológico, tema que atravessa a produção de João do Rio, para além das crônicas que comentam a vida política do Brasil de seu tempo, é claramente explicitada em ensaio homônimo, motivado pela leitura de Nietzsche e de Oscar Wilde. Por outro lado, pode-se apreender a posição do jornalista-escritor enquanto “intelectual”, quando incorpora “o radical de ocasião” (Cândido) e traz para cena os escombros da belle époque carioca. Ou quando toma partido frente aos problemas políticos, em contraste com a crônica mundana dos “encantadores” da elite carioca. Por esta perspectiva, busca-se salientar “zonas de sombras – as formas, expressões e domínios de experiência recalcados ou preteridos e sua potência intempestiva”, a exemplo dos relatos urbanos que questionam os limites da representação, ao tematizar o comum e o cotidiano. Assim, este trabalho pretende salientar o viés político de Paulo Barreto e discutir suas relações com a contemporaneidade. Valendo-se das formulações de Jacques Rancière, que compreende a arte para além de sua autonomia ou de uma mensagem revolucionária, estudam-se as relações entre arte, estética e política. Para Agamben, ser contemporâneo é ser capaz de enxergar além do óbvio, o que o teórico chama de “obscuridade”. A partir desta concepção, bem como de outros pensadores, põe-se em questão o anacronismo que ajuda a ler João do Rio como nosso contemporâneo.
Palavras-chave: arte e política; contemporaneidade; João do Rio.