É lícito se observar que a leitura escolar, em seu formato canônico, não autoriza ou, melhor, não aprova ligações com aquilo que se situa fora do literário: o universo do leitor. Na realidade, ao relativizarem as hierarquias e questionarem o valor do cânone literário, produções da cultura massiva, tão íntimas dos jovens, quase sempre são inseridas nas escolas de modo colateral, eventual, pouco (ou não) planejado, e muitas vezes de modo perturbador no currículo escolar, que se encarrega de definir a cultura legítima. O que de fato ocorre na grande maioria das vezes é que algumas dessas produções desviantes ou marginais, pelo caráter denunciatório e constrangedor, encontram especial resistência no ambiente da escola, um ambiente tradicionalmente reconhecido como legitimador do “patrimônio histórico nacional” representado no ensino de literatura pela presença muitas vezes irrefutável do cânone literário brasileiro. Diante de tais constatações, este artigo busca explorar a possibilidade de se encontrar uma saída efetiva para o ensino de literatura baseado em uma concepção de educação sob um ponto de vista canônico, consagrador e liberal. Será evidenciada assim nesta oportunidade a perspectiva de formar leitores a partir do momento em que se traz para a sala de aula autores da periferia aptos a questionar o valor do cânone no instante em que trazem uma literatura próxima da cultura massiva dos jovens. Nesta perspectiva, buscar-se-á aqui analisar a possibilidade de se estudar Allan Santos da Rosa e sua literatura inquietante, não-canônica, estetizante e sumamente atual na sala de aula.
Palavras-chave: cânone; ensino de literatura; literatura da periferia; Allan Santos da Rosa.