Nesse texto, pretende-se estudo comparativo entre a representação trágica contida em O Abraço e Sapato de Salto. Busca-se compreender como o trágico, associado às experiências sexuais das protagonistas, resulta em desfechos completamente opostos. Em O Abraço, o sofrimento da protagonista tem origem na violência sexual vivida na infância. Em seu aniversário de oito anos, Cristiana sofre um estupro pelo “Homem da água”. Inicialmente, a lembrança dolorosa manifestava-se somente em sonhos, mas depois o inconsciente impede a manifestação até no meio onírico. Entretanto, certo dia, em um circo, o palhaço desperta as lembranças adormecidas no inconsciente e o trauma da infância se manifesta em toda a sua crueza. Cristina reconhece, na figura do palhaço, o “Homem da água” e, em vez de repudiá-lo, sente-se atraída pelo seu agressor. Sapato de Salto retrata a trajetória de Sabrina, criada em orfanato, que é resgatada para trabalhar como babá na casa de uma família burguesa. A menina, com apenas 11 anos, pensa ter encontrado uma família, até sofrer estupros recorrentes pelo patrão. No decorrer da narrativa, aparece a verdadeira família de Sabrina, na figura da Tia Inês e de sua avó, entretanto, o ex-namorado de Inês a assassina. Para não voltar ao orfanato e sustentar a avó, Sabrina se prostitui, mas acaba encontrando na família de André Doria o apoio que necessitava. Aspectos do trágico, como Hybris, presságios e patético, fazem-se presentes nas duas narrativas em questão. No entanto, o trágico de que é acometida Cristina, em O Abraço, a leva à degradação, cujo caminho que lhe resta é a morte. Em Sapato de Salto, ainda que o trágico também tenha conduzido Sabrina à degradação de si, o desfecho é outro: ela reverte o seu destino trágico para a reconstrução de sua vida.
Palavras-chave: Trágico. Lygia Bojunga. Sapato de Salto. O Abraço.