O presente trabalho pretende promover uma reflexão, de natureza comparatista, sobre a utilização de sobras culturais como elemento estético no romance Eles eram muitos cavalos (2013), de Luiz Ruffato. Nos sessenta e nove capítulos da obra, há uma organização de textos variados, como horóscopos, seção de classificados, listas de vagas de empregos que permite com que o livro transponha as barreiras do literário e comunique-se com outras artes e mídias. Para lograrmos êxito na nossa pesquisa, utilizamos uma abordagem metodológica que principiou pela consideração do autor do texto literário como um bricoleur, na acepção de Compagnon (2010), que elabora o seu trabalho lançando mão da colagem, do ajuste de fragmentos e da reformulação de ideias passadas. Em seguida, recorremos à fortuna crítica acerca da assimilação de sobras culturais e resíduos da cultura de massa pela literatura, trabalhada principalmente por Moser (1999), a fim de avaliar de que modo os objetos da contemporaneidade, marcada pela acumulação e pela saturação, se constitui no corpo do romance em questão e quais são as origens desse processo no âmbito das artes. A partir dos elementos trabalhados, avaliamos que Eles eram muitos cavalos (2013) não só inscreve-se como um romance contemporâneo, no sentido que Agamben (2009) trabalha o conceito, mas também como um texto de fruição, que reflete de forma profunda a relação do homem envolvido pelo espaço urbano e as coisas que o rodeiam. Ruffato ao buscar o limite, encontra a essência da escritura.
Palavras-chave: Sobras culturais. Bricolagem. Eles eram muitos cavalos.