Leomir Silva de Carvalho, Sílvio Augusto de Oliveira Holanda
Este artigo tem como objetivo analisar o conflito entre inovação literária e tradição em textos críticos de Wilson Martins sobre João Guimarães Rosa, em contraste com ensaios de Haroldo de Campos em que o autor mineiro é destacado como um expoente da escrita inventiva. Toma-se o conceito de quebra de horizonte de expectativa estabelecido por Hans-Robert Jauss, em A história da literatura como provocação à teoria literária (1994) e no ensaio posterior “A estética da recepção: colocações gerais” (1979), para analisar como as propostas estéticas de Guimarães Rosa interferem na tradição. Martins atuou como crítico literário e escreveu os sete volumes referentes à série História da inteligência brasileira. Nos artigos intitulados “Radiografia de Sagarana” (1979) e “Um novo Valdomiro Silveira” (1991), Martins mostra-se reservado quanto ao valor do autor mineiro, revelando estranheza em relação à sua linguagem considerada, entre os regionalistas, apenas uma expressão menor do pitoresco. Como contraponto a essa análise, Haroldo de Campos, desde sua atividade junto à vanguarda concretista, busca uma nova prática poética e crítica. Desse modo, o caráter esteticamente produtivo da escrita rosiana é ressaltado nos ensaios “Da tradução como criação e como crítica” (2006) e “A linguagem do Iauaretê” (2006). Ao lado disso, no texto “Da razão antropofágica: diálogo e diferença na cultura brasileira” (2006) observa-se que, para Campos, a América Latina pode se relacionar de maneira autônoma com a tradição. Para isso, problematiza a ideia de universalidade, muito utilizada por Martins como atributo valorativo.
Palavras-chave: Linguagem literária. Tradição. João Guimarães Rosa.