Karima Bezerra de Almeida, Tânia Maria de Araújo Lima
Emily Dickinson e Gonçalves Dias contestaram através de suas obras inovadoras, tal como outros artistas do século XIX o fizeram; enfrentando as barreiras dos isomorfismos históricos e derivando para outros polos, muito embora, naturalmente, embasados nos modelos clássicos que os precederam. A utilização da musicalidade como ferramenta de contestação aproxima estes dois poetas, apesar do distanciamento sociocultural e histórico relevante entre Brasil e Estados Unidos na época em que viveram. Este texto tem como objetivo buscar nas obras de Emily Dickinson e Gonçalves Dias estas proximidades e distanciamentos, considerando exclusivamente os recursos eufônicos que utilizaram. Emily Dickinson utilizou recursos musicais para expressar sua inquietação aos preceitos da Igreja congressionalista; ao tradicionalismo social europeu; àquilo julgado moral; e, particularmente, às restrições que circunscreviam a condição da mulher, mortal e poeta. Gonçalves Dias voltou-se contra o fluxo em sua obra poética, emoldurando-se na temática “americana”, com assuntos e paisagens brasileiros. Enxergou o índio, e o valorizou, presenteando a primeira geração do Romantismo no Brasil com uma perspectiva nunca antes explorada, o Indianismo, atrelado a vocabulário e ritmos característicos, como o som do boré e o ritmo dos rituais indígenas, enraizados na cultura brasileira pós-colonialista. Este artigo pretende colaborar com as expectativas da linha de pesquisa dos Estudos Comparados de Literaturas de Línguas Modernas, no tocante de abordagens comparativo-críticas, compreendendo campos interdisciplinares das literaturas e outros saberes como tradução, história, sociedade, cultura e antropologia. Este estudo prioriza os ensinamentos do tradutor José Lira e da estudiosa Judy Jo Small.
Palavras-chave: Emily Dickinson. Gonçalves Dias. Musicalidade poética. Contestações no século XIX.