Este texto se propõe discutir a proposta crítico-pedagógica posta pelo movimento de poesia concreta ressaltando como esta dialoga com outras propostas que acabam por convergir para uma concepção da feitura literária, crítica e tradutória como poeisis em que os limites entre texto literário e crítico, texto original e texto-tradução, leitura e escrita, poeta e crítico, poeta e tradutor acabam por se apagar, seja porque, como concebem os românticos alemães via interpretação benjaminiana, o crítico e o tradutório se tornam textos criativos que desdobram o potencial – estético e de significação – do texto literário per se; seja porque, como na proposta concretista, em movimento contrário, o texto literário – e o texto-tradução – acaba por se tornar o espaço da crítica e da teoria. Nesse movimento entre textos, a poesia concreta propõe, como parte de sua estratégia discursivo-pedagógica da crítica literária, a tradução como texto por excelência do diálogo, prática articuladora e estruturante de seu projeto crítico-literário de formação de leitores – seus leitores. Neste texto, discutirmos a noção de poiesis a partir de Agamben (2012), o papel da crítica e da tradução nas propostas modernas para atualização da potência significativa das obras literárias, bem como o projeto pedagógico-crítico-literário dos poetas concretos que tem como conceito estruturante a antropofagia oswaldiana, concentrandonos brevemente no projeto tradutório de Augusto de Campos relativo à obra de E. E. Cummings, tarefa tradutória que se inicia em 1956, passa por 4 edições – 10 poemas, 20 poem(a)s, 40 poem(a)s, Poem(a)s e tem sua última edição, Poem(a)s, em 2011, edição base dos textos analisados.
Palavras-chave: Poiesis. Antropofagia. Tradução literária. Poesia concreta. E. E.Cummings.