O objetivo do presente trabalho é analisar as relações entre Ficção, História e Memória nas obras Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett e Viagem a Portugal, de José Saramago. Escrita no século XIX, Viagens na Minha Terra é considerada uma produção paradigma da primeira fase do Romantismo em Portugal, cuja proposta literária era justamente ser ?a crônica do passado, a história do presente, o programa do futuro?, de acordo com o próprio autor- narrador. E, através da viagem pelo interior de seu país, o autor-narrador busca o sentido do que é ser português em um momento de drásticas mudanças no país, já que o a obra tem como contexto histórico a Revolução Liberal. Viagem a Portugal, por sua vez escrito no final do século XX, é resultado de uma viagem que o autor fez por Portugal, com o intuito de descobrir novos caminhos, para além daqueles que todos conhecem e identificam, conforme as palavras do próprio autor ?Não sei por onde vou, só sei que não vou por ai?, é o lema da viagem. O diálogo que se estabelece entre as obras aparece explicitamente na dedicatória de Saramago, e de certa forma, serviu de fonte de inspiração para o desenvolvimento e elaboração do presente trabalho: ?A quem me abriu portas e mostrou caminhos – e também em lembrança de Almeida Garrett, mestre de viajantes?. Tal diálogo vai muito além do fato de ambas as obras serem relatos de viagem, uma vez que a ?viagem? faz referência a uma série de reflexões políticas, históricas, filosóficas e existenciais que as personagens protagonistas tratam cada uma a seu modo e ao tecer essas reflexões estabelecem-se relações entre ficção, história e memória.