Vassili Aksiónov (1932-2009) é considerado um dos escritores mais representativos do “degelo” soviético por sua escrita inovadora e dotada de contrastes profundos com a literatura de sua época. Entre as principais características de sua obra está a incorporação de um vasto corpo autobiográfico motivado, muitas vezes, pelo histórico das perseguições políticas vivenciadas por sua família. Esse fator teve impacto essencial nas relações entre literatura e história, ficção e realidade na obra do autor. A maneira como Aksiónov utiliza esse recurso caracteriza o que podemos chamar de uma poética autobiográfica. Porém, essa poética não representa uma mera reprodução dos fatos ocorridos em sua vida, mas ao incorporá-los, Aksiónov os transforma num debate mais amplo, em que os conflitos excedem a realidade do autor e conduzem a uma relação de tensão entre indivíduo e sociedade. Este trabalho pretende mostrar a problemática autobiográfica retratada pelo escritor e de que maneira ela se apresenta na sua prosa, especificamente em uma de suas obras iniciais, Zviózdnyi biliet, de 1961. Neste romance, Aksiónov retrata alguns aspectos da intelligentsia do “degelo”, da sua própria geração, por meio da representação da juventude da época e incorporando temáticas e influências culturais de seu grupo, como a linguagem, a música e a literatura, por exemplo. Pretende-se, então, compreender de que maneira as disputas individuais que impulsionam a narrativa são transpostas para o campo da desindividualização e, consequentemente, a uma crítica à sociedade e a cultura de sua época.
Palavras-chave: Literatura russo-soviética. Vassili Aksiónov. Autobiografia.