O presente trabalho investiga a produção literária do escritor moçambicano Luís Bernardo Honwana, com ênfase em seu conto “As mãos dos pretos”, incluído no livro Nós Matamos o Cão-Tinhoso, de 1964. O objetivo principal desta análise é mostrar como temas centrais da vida colonial ao longo da década de 1960, em Moçambique, comparecem direta e indiretamente na ficção do autor: a relativa condição do atraso português frente à composição europeia; as tensões latentes da Guerra-Fria; o positivismo canhestro e impróprio do imperialismo português; a arbitrariedade das relações de dominação; as forças virtuais da resistência colonial; e a própria guerra de libertação, que germina na desobediência civil dos mais fracos. Tentamos ler a literatura de Honwana em chave histórica, de modo que a ficção revele aspectos da sociedade da mesma maneira como sói ocorrer no sentido contrário. Para tanto, valemo-nos de obras cujo caráter histórico e antropológico (Cabaço, 2009; Freyre, 2013; Holanda, 1994; Thomaz, 2002), político (Cabral; Césaire, 2011) ou filosófico (Aron, 2008; Fanon, 2011) auxiliam no desvelamento das forças em jogo no interior das relações sociais particulares. Vale notar que, no que concerne às disposições históricas do colonialismo português reveladas pela percepção acurada do jovem Honwana, a crueldade e o peso do elemento do arbítrio assumem papel privilegiado, articulados a todo momento com a posição subalterna de Portugal no contexto do imperialismo mundial do século XX.
Palavras-chave: Luís Bernardo Honwana. As mãos dos pretos. Literatura moçambicana. Literatura colonial. Arbítrio.