Entre os séculos XVII e XIX uma intensa relação comercial se estabeleceu entre o Brasil e a Costa Ocidental da África. Não constitui novidade que grande parte dos produtos que transitavam entre essas fronteiras do Atlântico Negro era constituída principalmente de mão de obra africana escravizada. Esta fatia do comércio de carga humana foi ampla e exclusivamente explorada por homens que, então denominados Chachás, chegaram até mesmo a assumir postos de comando no continente africano. A abordagem a respeito deste capítulo da História do Brasil e da África ganha novos contornos na prosa trazida a efeito por Antonio Olinto, em seu festejado romance A casa da água (1969) e, anos mais tarde, por Ana Maria Gonçalves, nas linhas do romance histórico Um defeito de cor (2007). Em evidente processo de inter-relação da ficção literária com relatos históricos que nos permite refletir não só a respeito da constituição da população brasileira, como também sobre a influência de brasileiros na constituição de populações de países africanos da Costa do Benim, os autores colocam suas respectivas personagens – Mariana, a matriarca da narrativa olintiana, e Kehinde, a heroína surgida da lavra ficcional de Ana Maria Gonçalves – em posição de comerciantes de importância para as comunidades em que são inseridas. Levando em conta que a autora de Um defeito de cor enumera entre as referências em que se baseou para a escrita de seu romance a referida obra de Antonio Olinto, este artigo pretende, num exercício comparativo, estabelecer as relações de proximidade e de afastamento entre as duas personagens. Neste viés, pretendemos também adentar a discussão acerca da eventual diferença no delinear de cada personagem, investigando se as cores utilizadas pelo escritor ubaense para dar forma à protagonista de sua narrativa seriam em muito diferenciadas daquelas de que Ana Maria Gonçalves fez emprego.
Palavras-chave: História. Literatura Comparada. Literatura Brasileira. Romance.