O presente trabalho estuda nos romances Trilogía sucia de La Habana (1998) de Pedro Juan Gutiérrez e Bicentenaire (2004) de Lyonel Trouillot, a interação entre personagem e espaço urbano que, no caso cubano, torna visível a carência material do Período Especial enquanto a escrita escatológica individual contraria a imprensa estatal e sua retórica oficial e, no caso haitiano, utiliza o fluxo de pensamento do manifestante de rua como recurso dialógico dividido entre o engajamento social, a sabedoria oral camponesa e um sentimento amoroso transcendental e pessoal. Na medida em que os personagens —sujeitos excluídos social ou comunicacionalmente— lidam com a violência e a sobrevivência, os antagonismos sociais em cada caso serão interpretados como a representação do fracasso do estado onipresente cubano e do estado repressor haitiano. A partir de uma leitura comparada, a análise textual mostram como o realismo literário novo, a partir dos anos 1990 e com o fim formal do mundo bipolar, perfila um posicionamento político novo ligado à vida e o território nacional e que oscila entre a indignação nacional e/ou o apelo à democracia, porém, sem reproduzir o discurso de nação, a saber, o ideário constitucional vindo da independência política e seus próceres.
Palavras-chave: Romance. Estado. Violência. América Latina. Pedro Juan Gutiérrez. Lyonel Trouillot.