O propósito fundamental deste trabalho é estudar o contexto narrativo no qual se insere a figura do estrangeiro nos romances Chove nos campos de Cachoeira e Linha do Parque, de Dalcídio Jurandir (1909-1979), enfocando mais de perto a tríade autor-narrador-personagem, com ênfase no “olhar daquele que narra” e as estratégias fabulativas que usa para tal. O autor, considerado como o Romancista da Amazônia, escreveu dez obras que compõem um ciclo romanesco, o Ciclo do Extremo-Norte, em que as ações dos personagens transcorrem ancoradas no espaço ficcional da Amazônia paraense (Marajó, Belém e Baixo Amazonas), no início do século XX. Sendo o primeiro da série, Dalcídio chamou Chove nos campos de Cachoeira de “romance-embrião”, de onde desaguarão os outros nove, dele se nutrindo e amplificando e aprofundando as temáticas nele contidas. Linha do Parque compõe solitariamente o Ciclo do Extremo-Sul, romanceando a história de operários (marítimos, portuários, tecelãs, proletários em geral) no Porto do Rio Grande, sob encomenda do PCB, seguindo, de modo geral, os pressupostos do Realismo Socialista. Nesses dois corpora de análise, o interesse da pesquisa se volta para quem seria o estrangeiro (‘o outro’, o forasteiro, ‘o que vem de fora’). Em Chove nos campos de Cachoeira, é o Dr. Lustosa, latifundiário e político ganancioso, sedento pelas rédeas do poder. Já em Linha do Parque, trata-se de Iglezias, revolucionário anarquista espanhol, que deixou sua pátria para não ser perseguido, preso, torturado, ou assassinado, fixando-se no Rio Grande, em 1895, passando a ser uma das lideranças da União Operária.
Palavras-chave: Estrangeiro. Chove nos campos de Cachoeira. Linha do Parque. Ciclo do Extremo-Norte. Ciclo do Extremo-Sul. Dalcídio Jurandir.