A Shoah tem sido um tema recorrente tanto na obra da artista plástica, escritora e
ensaísta brasileira Leila Danziger (Rio de Janeiro, 1962) quanto na do fotógrafo, cineasta e
escritor português Daniel Blaufuks (Lisboa, 1963). Os dois artistas/escritores se inscrevem em
um perfil da arte/literatura contemporânea que trabalha com coleções e arquivos – de textos, de
imagens – entrelaçando as histórias familiares e pessoais com as narrativas oficiais da tragédia
que se abateu não só sobre os judeus, mas sobre toda a humanidade na Segunda Guerra
Mundial. Em sua tese de doutorado, Danziger estuda os monumentos e os anti-monumentos, a
cidade como “oficina da história” e a arte contemporânea diante do que chamou de um
“imperativo ético do testemunho”. Blaufuks, por sua vez, tanto em Sob céus estranhos (2002)
quanto em Terezin (2010), põe em relevo um conceito de veracidade no qual a imagem acaba
por se configurar como uma falácia. Essas aproximações de ambos os escritores ao tema da
Shoah/Holocausto dão-se, sobretudo, por intermédio da inscrição do artista enquanto
colecionador e arquivista, que recolhe os vestígios e ruínas da história.