Este trabalho propõe a análise dos temas do nacional e do universal em dois romances
brasileiros contemporâneos, O sol se põe em São Paulo (2007), de Bernardo Carvalho, e
Diário da queda (2011), de Michel Laub. O estudo teve como ponto de partida a
abordagem dialética de Antonio Candido (2007), segundo a qual a literatura brasileira se
constituiu historicamente no jogo de forças entre o universal e o local, sendo o primeiro
termo entendido como representação de grandes temas da humanidade e o segundo, no
sentido de particularização dos temas e formas de expressão. A investigação da presença
do nacional diz respeito à ficcionalização de elementos descritivos especificamente
brasileiros, no caso, do ponto de vista material ou socioeconômico, a despeito do
renascimento dos pressupostos de uma “literatura mundial” na nova ordem global
(AHMAD, 2010). Nesse sentido, os romances demonstram como a representação do
nacional pode consistir em elemento de permanência, e esta foi relacionada a teorias do
pós-modernismo que contemplam a coexistência de transformação e continuidade
estética (JAMESON, 2007). Outro aspecto de permanência pôde ser encontrado na
presença do realismo, seja via realismo formal, seja via resquícios de realismo social na
representação de um “mundo hostil” (PELLEGRINI, 2009). Nos textos analisados, o
resgate estético do realismo, ainda que de maneira refratada, contribui para a composição
de narrativas onde convivem tendências conflitantes, sintetizadas nos conceitos de
realismo afetivo e realismo traumático (SCHØLLHAMMER, 2012; 2013).
Consideramos que os traços de permanência aqui apontados guardam relação com um
contexto local de produção literária e, portanto, com as condições de atraso
socioeconômico e cultural que caracterizam a sociedade brasileira (CANDIDO, 2011), as
quais igualmente ensejam uma projeção internacional pautada em fontes estrangeiras e
em princípios etnocêntricos de universalidade (SCHWARZ, 2006; 2012). Nos romances
analisados, a despeito do protagonismo de temas e de fontes intertextuais transnacionais,
o nacional emerge em segundo plano pela representação da violência urbana e da
desigualdade social, percebidos aqui como índices possíveis de brasilidade. Por fim, o
contexto latino-americano demanda uma abordagem diferencial que contemple os
fenômenos de hibridação (CANCLÍNI, 2015), bem como as construções transculturais de
identidades (HALL, 2011) e narrativas literárias (RAMA, 1984), enquanto sínteses
possíveis da dialética entre local e universal.