Um sopro de vida (1978), de Clarice Lispector, possui uma estrutura mais teatral do
que romanesca. A cisão do “eu” em eu-sujeito e eu-objeto – processo basilar do procedimento
metaficcional – passa a ser a própria forma do livro. Sem uma história para contar, o narrador
desdobra-se em criador (Autor) e criatura (Ângela). Em vez de narração, há uma dramatização
do monodiálogo do Autor consigo mesmo, ou com seu duplo (Ângela), que é irônica na medida
em que as falas de ambos são perpassadas por inúmeras questões sobre o modo como cada um
escreve – oposto e complementar – e o próprio ato que lhes dá vida: escrever. O último sopro de
vida da autora engendrou uma das narrativas mais originais de sua ficção.
Palavras-chave: Literatura brasileira; Clarice Lispector; metaficção; teatro.