DALVA MARTINS DE ALMEIDA, CÍNTIA CARLA MOREIRA SCWANTES
Resumo: Peter Hunt (2010) sugere que é necessário questionar o que é esse campo chamado “literatura infantil”. E isso se dá por vários motivos, entre eles o de identificar sua abrangência, seu lugar na produção cultural contemporânea. Isso inclui a resistência ao juízo de valor imposto por cânones literários. Ou seja, significa que delimitar o ‘status’ de um texto, entendendo que o que um texto é, relaciona-se com o seu contexto. Então, o poder de grupo no campo da literatura infantil é inevitável (Hunt, 2010, p.35). Ao recortar, minimamente, o pensamento de Hunt em seu trabalho de crítica ao campo da literatura infantil, é possível a percepção de um diálogo com a questão da autoria e da temática nas narrativas infantis contemporâneas. E isso leva-me a questionar que pensar o texto infantil na atualidade, requer posturas de enfrentamento ideológico. Nessa esteira, este texto se sustentará em torno da reflexão quanto às “novas” temáticas, ou seja, a presença de outras narrativas nos contos infantis atuais, por um lado. Por outro, imbricado nesse processo, a emergência da autoria de escritoras afrodescendentes. Para compreender que a literatura infantil investe-se como campo de poder, onde o processo de construção afirmativa das identidades negras e a destituição do racismo, embutido na democracia racial à brasileira, se acoplam. Esse ideal encontra eco no processo de escrevivência, ou a autorrepresentação de uma escrita que incomoda, que rompe com processos de hegemonia cultural. Escrita que revela as marcas de pertencimento. Desse modo, seguindo a linha histórica de escritoras afro-brasileiras, tais como: Maria Firmina dos Reis, Auta de Sousa, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, citando algumas, na literatura infantil contemporânea estão presente várias autoras. Para esta análise, destaco Nilma Lino Gomes, com Betina (2008) e Heloísa Pires Lima, em Histórias da Preta (1998). O estudo desses textos partirá da discussão da representação de gênero feminino, com evidência do protagonismo infantil da menina negra, elegendo-a como sujeito, como agente de sua vida, não mais um corpo abjeto, silenciado. Implicando que a reflexão em torno das protagonistas Betina e Preta, revela a perspectiva da discussão da construção das identidades negras à partir da infância da menina negra. Observando os discursos da alteridade, através, entre outros, do resgate das histórias dos povos negros na diáspora à brasileira. Por outro viés, essa análise deve evidenciar a autoria negra feminina, para realçar a voz autoral da escritora negra. A análise terá como esteio, a contribuição da crítica literária, os estudos culturais e pós-coloniais. Palavras-chave: Literatura Infantil Contemporânea. Autoria. Identidade. Representação.
Palavras-chave: LITERATURA INFANTIL CONTEMPORÂNEA, AUTORIA, IDENTIDADE, REPRESENTAÇÃO