CECÍLIA GUEDES BORGES DE ARAUJO, FABRÍCIO FLORES FERNANDES
Este trabalho tem como objetivo geral analisar as formas de representação da violência em “Sobre a natureza do homem”, “Joana” e “Você vai voltar pra mim”, da coletânea Você vai voltar pra mim e outros contos, de Bernardo Kucinski; bem como refletir sobre os fatores que contribuíram para o desenvolvimento do trauma e da dor na constituição das personagens de Kucinski. A análise leva em conta, inicialmente, as ideias de Candido (2011), que propõe o estudo da internalização de problemas sociais pela obra, levando em conta fatores contextuais e psíquicos como agentes na literatura, ou seja, elementos constituintes do enredo. Os contos tematizam histórias de vítimas da opressão do período da ditadura militar que foram torturadas e encaminhadas a tratamentos psiquiátricos, e cujos depoimentos, subsidiados pelas memórias, foram utilizados para a tentativa de compreender os acontecimentos e trazê-los para debate público. Segundo Ginzburg (2012), os relatos de violência surgem associados a uma atenção crítica às diferentes formas como ela ocorre, entre as quais, o estudo do testemunho, que se associa na tradição com a figura do mártir, o sobrevivente de uma provação. Por isso, entende-se que o discurso da dor é carregado de fissuras, e, como lembra Viñar (1992), a fala de quem foi submetido à violência carrega uma ferida que concerne a toda a humanidade. Assim, estuda-se aqui a maneira como a arte busca interferir no debate sobre a ditadura militar, a tortura, o trauma e a dor, ao mesmo tempo em que procura o discurso mais apropriado para representar o sofrimento e a violência.