A partir da análise de contos e crônicas de João do Rio e Benjamin Constallat pretende-se observar como a implementação de certas tecnologias próprias da modernidade, como a iluminação noturna, o automóvel e o cinema, e a “importação” de novos hábitos pelas classes aburguesa, como a flânerie e o fascínio pelas classes marginalizadas, promove um movimento extremamente complexo entre o escritor-observador e as novas figurações do espaço urbano. Por um lado, cronistas e escritores são hábeis em apontar o caráter artificial, caleidoscópico da capital, por outro, a tentativa de apagamento das camadas marginalizadas pelo discurso oficial vai contra a práxis de certa modernidade boêmia europeia, fascinada pelo cotidiano dos chamados marginais, como forma de escapar ao tédio burguês. Tais elementos, em uma cidade como o Rio de Janeiro, dominada por uma forte cultura das ruas de base africana e afro-descente termina por revelar o olhar contraditório dos escritores desse período. Receosos da perda da cidade da memória, fascinados pela ebulição da nova cidade, incapazes, muitas vezes, de perceber que os corpos marginais carregam a memória da cidade em vias de desaparecimento.
Palavras-chave: MODERNISMO, JOÃO DO RIO, CULTURA DAS RUAS