Os territórios periféricos e seus sujeitos, em muitos momentos, foram representados na literatura argentina, porém ocupando um espaço secundário nas narrativas. Em 1956, Bernardo Verbistk, pela primeira vez, denomina a esses espaços de villa miséria em seu livro Villa miseria también es América. Com essa narrativa, traz a representação da favela para o centro da representação. Posteriormente, outros livros irão trazer essa temática, mas a favela e seus sujeitos continuaram tendo um espaço secundário dentro das obras. A partir da década de 90, a Argentina sofre uma imensa crise econômica e os espaços periféricos vão crescendo, gerando novos discursos. A própria literatura argentina sofre uma reconfiguração, com o surgimento de narrativas pautadas em questões atuais, e a periferia passa a assumir um importante lugar nessa produção. Os novos escritores trazem à cena literária o cotidiano da favela e vida de seus moradores. Contudo não mais de forma secundária, e sim como elemento principal da narrativa, sendo a favela a principal personagem de suas obras. Dentro desse panorama encontraremos já no século XXI obras como Villa Celina, de Juan Diego Incardona, La 31, uma novela precária, de Ariel Magnus, Cuando me muera quiero que me toquen cumbia, de Cristian Alarcón, Villa 31, la historia de un amor invisible, de Demian Konfino, e Si me querés quereme transa, de Cristian Alarcón, entre outras. Estas narrativas irão trazer para o campo da representação literária dois pontos centrais: a questão dos imigrantes e sua concentração nos territórios periféricos. Historicamente, a periferia sempre foi o espaço ocupado pelos imigrantes que chegam à cidade de Buenos Aires e com o aumento da imigração de países vizinhos a sociedade tem a percepção de um agudo aumento da favelização, associada ao crescimento da população de países como Bolívia, Paraguai e Peru. Portanto, a representação dos territórios periféricos nos permite verificar o fenômeno atual que marca profundamente Buenos Aires como uma cidade fragmentada composta por ilhas urbanas. Percebe-se que a barreira entre os enclaves e a cidade formal tem se tornado cada vez mais frágil, pois ocorre o trânsito e o diálogo entre indivíduos dessas duas diferentes áreas é cada vez mais intenso. Cabe ressaltar que estas narrativas, embora apresentem como cenário os mesmos espaços (os territórios denominado periféricos da capital ou do Conurbano Bonaerense), dão lugar a escritas muito heterogêneas nas quais a experiência individual do autor se torna um ponto chave para a leitura e figuração do território. Nossa proposta com esse trabalho é fazer um rápido percurso em ditas obras, levantando os principais aspectos que nos permitem perceber como nessa literatura recente os territórios ganham espaço e passam a ser o principal foco das narrativas, trazendo à cena a representação daqueles que se encontram à margem. Propomo-nos fazer uma cartografia dessa produção para poder pensar mais especificamente as estratégias narrativas utilizadas pelo autor de Si me querés quereme transa para a narrar esses espaços figurados no lócus totalizador de Villa del Señor. Além da retomada obrigatória a Josefina Ludmer, recorreremos à concepção de território de Rogério Haesbaert, e, para as questões referentes à representação das favelas, utilizaremos as pesquisas de Cristina Cravino. Para pensar a questão da estrutura das narrativas do presente, lançaremos mão do estudo de Florencia Garramuño e Beatriz Sarlo. Para pensar as novas formas de organização dentro desses territórios e os conflitos gerados a partir das identidades em deslocamento, utilizaremos os estudos de García Canclini, Zygmunt Bauman e Arjun Appadurai.
Palavras-chave: DESLOCAMENTO, TERRITÓRIO, VILLA MISÉIA/FAVELA, IMIGRAÇÃO