o estatuto do texto apresentado, cujo subtítulo é “uma autobiografia literária”, percorrendo os impasses de quem tenta superar suas influências e flertar com a autoficção, promovendo uma escrita de si contemporânea. Tezza define-se como prosador e problematiza sua relação com o real, empreendendo sua própria investigação sobre o conceito de literatura. No embate consigo mesmo e com o leitor, o escritor especula um hibridismo com a prosa romanesca, dialogando outra vez com Bakthin. É possível verificar nisso uma alimentada rivalidade entre o narrador e o texto, que buscaria assim sua própria autonomia, em uma realização de ideal formalista. Ao narrar a trajetória de sua formação, que inclui o interesse pelo teatro e pela cultura de massas, Tezza lança um olhar iconoclasta sobre o assimilado e questiona seu próprio processo de escrita, suas aspirações a Dostoiévsky tupiniquim ou contista à la Machado de Assis – o espelhamento também prevalece quando estão em pauta as referências criativas. É justamente na explicitação do insucesso de algumas tentativas ficcionais que está baseado o processo de construção de texto de Tezza, percorrendo o eixo de leitor a autor-crítico.