João Paulo Cordeiro Ferreira, Profa. Dra. Mayara Ribeiro Guimarães
Nos contos de Rubem Fonseca é comum encontrarmos diversos discursos “intertextualizados”, com obras, personagens, citações e discussões em torno de famosos autores literários brasileiros e estrangeiros que são, em diferentes contextos e construções literárias, postos na prosa fonsequiana, direta ou indiretamente. Dessa maneira, faremos uma abordagem levando em consideração, inicialmente, dois importantes contos de Fonseca: “Romance Negro” (do livro Romance Negro) e “A matéria do Sonho” (do livro Lúcia McCartney). A leitura desses contos, em parte, permite-nos desenvolver um diálogo entre a prosa fonsequiana e a prosa de E.T.A. Hoffmann e Edgar A. Poe, visto ser possível que algumas narrativas desses autores tenham influenciado as construções composicionais de Rubem Fonseca, uma vez que seus contos assumem um estilo que põe em discussão os limites que permeiam o real e o ficcional, a denúncia e a imaginação, a verdade e a mentira, polos opostos identificados na textualidade de Fonseca que não nos permitem delimitar com facilidade as fronteiras que os separam. O presente trabalho visa encontrar e discutir tal fenômeno na composição fonsequiana, por isso, tem como objetivo mapear as diversas transformações composicionais voltadas à temática do duplo na narrativa ficcional de Rubem Fonseca, analisando se as duplicações apresentadas na narrativa fonsequiana provenientes do processo intertextual são uma forma de “borramento” ou de “apagamento” da tradição literária estrangeira e até mesmo brasileira.