ORIENTAÇÃO: Sheila Praxedes

RESUMO: “Tenho muito medo de ficar regionalista e me exotizar pro resto do Brasil” (MORAES, 2010, p. 123). É com esta declaração feita ao folclorista Câmara Cascudo, em carta escrita em 01 de março de 1927, que Mário de Andrade expressa uma de suas preocupações em torno da escrita de Macunaíma (1928), que traz em seu bojo evidências de paisagens amazônicas que são representadas ao longo do texto numa tentativa de fugir do exótico inerente às frequentes abordagens que envolvem a região. Em O Turista Aprendiz, Mário tem a plena consciência de que não conseguiu se desprender totalmente da consciência poética dos seus contemporâneos em relação à Amazônia, mas em comparação ao que é apresentado em Macunaíma, é evidente que sua percepção da região amazônica está mais condizente com a realidade. Assim como Mário foi influenciado pela imagem exótica que ronda essa região, muitos autores estão imersos nessa visão extravagante que se tem da Amazônia, utilizando-se do exótico para criar no imaginário dos leitores uma dúvida do que seria real nessa região e colaborando, dessa forma, com a manutenção da exotização da Amazônia no imaginário popular. Essas discussões são resultantes de um trabalho que busca verificar se a Amazônia de Mário em Macunaíma ainda carrega imagens exóticas, e esse tem sido nosso percurso na pesquisa desenvolvida no PIBIC/UFRR 2019-2020, orientado pela professora Sheila Praxedes (UFRR), e que integra seu projeto de pesquisa “A Amazônia entre a realidade e a ficção: viagens e viajantes reais e imaginários”, do qual fazemos parte. Considerando a Amazônia como Mário, “desgeograficada” e longe do exotismo (MORAES, 2010), é intenção deste trabalho discutir como a imagem da região amazônica altera-se para Mário após sua viagem para região, cujas notas estão reunidas nO Turista Aprendiz, e também analisar como a exotização da Amazônia ainda influencia obras de autores da região e fora dela.

PALAVRAS-CHAVE: Amazônia; Mário de Andrade; Macunaíma; Turista Aprendiz; Exotização.

REFERÊNCIAS: ANDRADE, Mário de. Macunaíma o herói sem nenhum caráter. 33. ed. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 2004. ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz. Edição de texto apurado, anotada e acrescida de documentos por Telê Ancona Lopez, Tatiana Longo Figueiredo; Leandro Raniero Fernandes, colaborador. Brasília, DF: Iphan, 2015 ANDRADE, Mário. Carta-aberta publicada por Mário a Raimundo Moraes. Diário Nacional, São Paulo, 20/09/1931. CAMPOS, Sheila P. P. Das Margens ao Centro: notas e atualizações de um projeto para o Brasil de Macunaíma. Tese (Doutorado em Estudos de Literatura) – Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2019. CAMPOS, Sheila P. P. O Mário do Paulicéia, do Belazarte e do Macunaíma: considerações em torno do "monstro mole e indeciso que é o Brasil". Revista Brasileira de Literatura Comparada, Niterói, vol. 22, n. 39, abr./mai. 2020. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/2596-304x20202239sppc. Acesso em: 3 jul. 2020. GIL, Fernando C. Contribuições da crítica latino-americana para o estudo do romance rural brasileiro. Ipotesi, Juiz de Fora, vol. 12, n. 1, p. 181 - 196, jan./jul. 2008. KOCH-GRÜNBERG, Theodor. Do Roraima ao Orinoco. Observações de uma viagem pelo norte do Brasil e pela Venezuela durante os anos de 1911 a 1913. Tradução de Cristina Alberts-Franco. São Paula: Editora UNESP, 2006. LOPEZ, Telê Ancona. Macunaíma: a Margem e o Texto. São Paulo: HUCITEC, Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo, 1974. MEDEIROS, Sérgio (org.). Makunaíma e Jurupari: cosmogonias ameríndias. São Paulo: Perspectiva, 2002. MORAES, Marcos Antônio de (Org.). Câmara Cascudo e Mário de Andrade: cartas 1924-1944. São Paulo: Global, 2010. SOUZA, Gilda de Mello e. A ideia e o figurado. São Paulo: Duas Cidades / Editora 34, 2005, p. 69.