ORIENTAÇÃO: Yuri Jivago Amorim Caribé

RESUMO: Esta pesquisa se alinha metodologicamente aos estudos comparativos da tradução segundo Chesterman (2002). Ela tem como objetivo principal compreender e analisar as possíveis estratégias utilizadas por Paulo Henriques Britto na tradução do romance Cloud Atlas (2004), do autor britânico David Mitchell (1974-), para o português do Brasil. Tomamos como pressuposto que a obra inglesa se enquadra como romance polifônico, classificação proposta por Mikhail Bakhtin (2010), que a define como um gênero discursivo baseado no dialogismo, no encontro das múltiplas vozes dos personagens e do próprio autor que, através da interação, constroem-se mutuamente e de maneira equipolente. Apresentamos, então, a edição publicada no Brasil, Atlas de Nuvens (2016), como objeto de análise comparativa deste trabalho. Trabalhamos com o conceito de tradução literária como representação de um texto literário em outra língua, conceito adotado pelo próprio tradutor (BRITTO, 2016). A representação implica a construção de um efeito estético similar ao da obra original. Sendo a polifonia essencial para a estética da obra, estabelecemos a hipótese de que Britto, como tradutor, criou a representação dessa polifonia em língua portuguesa. Para complementar a análise da representação da tradução, são trabalhados secundariamente os conceitos de estrangeirização, o afastamento da realidade linguística do texto para levar o leitor ao escritor estrangeiro, e domesticação, a tentativa de aproximar a linguagem da realidade mais usual da língua nativa do leitor, propostos por Venuti (1995 e 2002). Concluímos que o autor Mitchell (2004) utilizou-se de aspectos linguísticos e discursivos para criar as vozes do romance e que Britto, em sua tradução para o português brasileiro, possivelmente se utilizou de estratégias similares para representar as vozes em português, ainda que tenha sido notada certa tendência estrangeirizadora.

PALAVRAS-CHAVE: estudos da tradução; polifonia; tradução literária; romance polifônico; tradutor.

REFERÊNCIAS: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. BRITTO, P. H. A tradução literária. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. CHESTERMAN, A.; WILLIAMS, J. The map: a beginner's guide to doing research in translation studies. 1. ed. Manchester: St. Jerome Publishing, 2002. MITCHELL, D. Atlas de Nuvens. Tradução de Paulo Henriques Britto. 1ª ed. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2016. ISBN: 978-85-359-2758-0. MITCHELL, D. Cloud Atlas. 1ª ed. Londres: Sceptre, 2004. ISBN: 978-0-340-82278-4. VENUTI, L. The translator's invisibility: a history of translation. Londres e Nova Iorque: Routledge, 1995. VENUTI, L. Escândalos da tradução: por uma ética da diferença. Trad. Laureano Pelegrin, Lucinéia Marcelino Villela, Marileide Dias Esqueda e Valéria Biondo. São Paulo: EDUSC, 2002.