ORIENTAÇÃO: Wilberth Salgueiro

RESUMO: Nota-se na obra de Graciliano Ramos o aparecimento sistemático da violência em suas narrativas, como em Vidas Secas (1938), Memórias do Cárcere (1953) e na obra de análise, São Bernardo (1934), evidenciando a presença da violência na cultura brasileira. É nesse contexto que se revela a naturalização das violências físicas e simbólicas de Paulo Honório contra seus funcionários e sua esposa, na concepção de que tudo é propriedade, e das brutalidades nas resoluções pessoais e nos conflitos. Desse modo, a proposta é pensar de que maneiras as construções sociais e históricas podem promover a execução disso na obra literária, como os antagonismos se imbricam nas formas e composições das obras de arte. Para tanto, o trabalho irá partir de reflexões que entendem a violência como construção material e histórica, que se inscreve referencialmente no tempo e no espaço. A urgência dessas questões na obra de Ramos se dá por evidenciar o conteúdo dos processos históricos e sociais brasileiros, do patriarcado e das relações de poder do sujeito dominador e situar a barbárie no interior da cultura. Considerando as cenas de violências na narrativa e pensando nos valores sociais e no contexto histórico, a intenção é articular de que modo a ficção atravessa a sociedade e, por conseguinte o alargamento da fina fronteira entre ficção e testemunho, de modo a pensar a ficção também como gesto testemunhal e identificar os traços formais e característicos que permitem pensar esta narrativa como ato e teor testemunhal, tendo em vista que o testemunho é assombrado pela possibilidade da mentira. Desta maneira, pretende-se contribuir para a ampliação dos estudos do alargamento do conceito de testemunho.

PALAVRAS-CHAVE: São Bernardo; Graciliano Ramos; violência; literatura.