ORIENTAÇÃO: Nicia Petreceli Zucolo

RESUMO: O conto “O instante da açucena” pertence à obra de Astrid Cabral, Alameda, a qual reúne vinte narrativas que giram em torno de uma alegoria, cujas personagens são vegetais (plantas, árvores, flores). No conto em questão, a personagem é uma flor, mais especificamente uma açucena, a qual vive uma intensa ansiedade pelo seu grande instante: aquele em que o inseto viria fecundá-la. Neste trabalho, pretendeu-se analisar a condição feminina presente na narrativa através desta personagem que, por meio das autocobranças e da reprodução de estereótipos de gênero, representa as vivências das mulheres em uma sociedade patriarcal, as quais são subjugadas e mantidas sob controle de diversas maneiras. Uma dessas formas de se exercer o poder é gerar a insegurança em relação à própria imagem, visto que, segundo Bourdieu (2010), “[...] elas [as mulheres] existem primeiro pelo, e para, o olhar dos outros, ou seja, enquanto objetos receptivos, atraentes, disponíveis” (p. 81). Isto é, a rigor, as mulheres precisam existir para o outro, por isso há a necessidade de corresponder a uma série de expectativas sociais, e a personagem açucena representa essa preocupação, seja pelo medo de envelhecer, seja pela expectativa em relação à figura masculina e à fecundação. Para a fundamentação teórica, baseou-se nas ideias de Grawunder (1996), Bourdieu (2010), Wolf (1992) e Friedan (2020).

PALAVRAS-CHAVE: literatura brasileira; conto amazonense; estereótipos de gênero; autoria feminina; violência simbólica.

REFERÊNCIAS: BORDIEU, P. Dominação Masculina. Tradução de Maria Helena Kuhner. 2ª Ed. Rio de Janeiro, 2010. CABRAL, A. Alameda. 4. ed. Manaus: Editora Valer, 2017. FRIEDAN, B. A mística feminina. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2020. GRAWUNDER, M. Z. A palavra mascarada: sobre a alegoria. Santa Maria: Ed. Da UFSM, 1996. WOLF, N. O mito da beleza: Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Tradução de Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.