As formas de comunicação têm evoluído de forma exponencial nas últimas décadas, com o surgimento de novas mídias e novos suportes. A diversificação de meios de comunicação não exclui as mídias tradicionais, mas aliam-se a elas, enriquecendo a experiência do público. O mercado editorial e a indústria do livro exercem a função de aproximar autores e o público leitor por meio da publicação de livros, agora incluindo também a utilização de suportes e mídias diversificados. Conforme o sucesso de determinado(a) autor(a), novas edições são publicadas, a fim de atender à demanda dos leitores. Além da obra na íntegra, essas edições podem apresentar novos elementos ou, no dizer de Gérard Genette, paratextos, que enriquecem a compreensão e fruição do texto literário. Em complemento ou em substituição aos tradicionais prefácios, “orelhas” e posfácios, hoje é frequente a inclusão de ilustrações, xilogravuras e outros recursos visuais. Novas mídias multiplicaram as possibilidades para adaptações literárias em diversos formatos, que contam com o apoio e, não raro, o acompanhamento, durante a produção, por parte de muitos escritores contemporâneos. Um dos quais alcança grande receptividade: a adaptação de narrativas para quadrinhos. Dentre os novos formatos resultantes de adaptação, um deles se populariza rapidamente, com repercussões positivas: a narrativa literária em quadrinhos, ou HQ. O romance, em princípio, mobiliza um pequeno contingente de personagens, em espaços relativamente restritos, para permitir que aflorem conflitos inerentes ao ser humano, visando à interioridade das personagens, o que torna especialmente difícil sua concretização essencialmente visual. Apesar dessa dificuldade, não é raro que adaptações literárias sejam publicadas nesse formato, bem aceito pelo mercado editorial e pelo público, porém com enormes variações em termos de qualidade. Tais variações ocorreram principalmente com obras que se encontram em domínio público, como as de José de Alencar, Machado de Assis, Aluísio Azevedo: Ubirajara, adaptado por André Leblanc e publicado pela Brasil-América; Dom Casmurro, adaptado por Wellington Srbek e José Aguiar e publicado pela Nemo; O alienista, adaptado pelos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá e publicado pela Agir; O cortiço, adaptado por Ivan Jaf e publicado pela Ática. Mas obras contemporâneas são alvo de versões para diversas mídias. Um exemplo desse fato ocorre com Dois Irmãos, do escritor Milton Hatoum, obra consagrada pela crítica e por seus leitores, que foi adaptada para o teatro em 2008 (dirigida por Roberto Lage), para uma minissérie para a TV em 2015, com previsão de estreia em 2017 (dirigida por Luiz Fernando Carvalho) e para o formato HQ em 2015, pelos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá. Tanto Hatoum quanto os irmãos são personalidades célebres no mercado editorial, com obras de sucesso que são frequentemente reeditadas. Este trabalho busca analisar, à luz da literatura comparada, essa nova manifestação artística, essa adaptação ficcional da obra de Hatoum, em contraste com a obra original. Neste trabalho, examinam-se componentes da narrativa como enredo, personagens, narrador e espaços com o objetivo de ressaltar aspectos relevantes do diálogo instaurado entre as duas modalidades narrativas.
Palavras-chave: FICÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA, ADAPTAÇÃO LITERÁRIA, HISTÓRIA EM QUADRINHOS