Em seu Re-pensando a teoria, Richard Freadman e Seumas Miller apontam para aspectos importantes da crítica literária do século XX, ressaltando de forma bastante crítica problemas teóricos (segundo constatam) que envolvem as formulações desenvolvidas ao longo do referido século. Os autores enumeram os pontos que julgam problemáticos nessas formulações: “a rejeição à referencialidade, a negação da individuação essencial e a dissolução do discurso valorativo, estético ou moral” (FREADMAN & MILLER, 1994, p. 149). A denominação que conferem a esse conjunto de doutrinas é, então, “antihumanismo construtivista”, fazendo menção ao ataque frequente que se empreende a pensadores considerados “humanistas”. Em um dos capítulos do mencionado livro, os autores se debruçam especificamente às teorias de Jacques Derrida, pontuando aspectos que aproximariam o teórico argelino ao que denominam "antihumanismo construtivista". Para tanto, analisam de maneira especial as concepções de linguagem e a própria prática crítica desconstrutivista. Sobretudo no que concerne às concepções de linguagem e escrita desenvolvidas por Derrida, os autores se mostram bastante críticos, apontando para a total falta de referencialidade que acaba conduzindo essas noções a um vazio. Devemos destacar, entretanto, que há certa perturbação, por parte dos autores, ao deparar-se com a própria condução do pensamento derridiano, avesso a um pragmatismo tão caro aos ingleses, o que é perceptível no estudo em questão. Assim, lembramos que o horizonte teórico de Derrida constitui-se de reflexões que habitam, naturalmente, um terreno bastante volúvel, já que pretende abarcar os aspectos mais obscuros da linguagem, partindo de uma linha neonietzscheana que julga ser demasiado óbvio trabalhar com o seus aspectos referenciais. Seria isso, efetivamente, a negação da referencialidade e do sujeito individual? Após vivermos o primado do sujeito cartesiano que, na figura do autor, é o possuidor da chave para a o acesso do leitor ao sentido, passamos por momentos de radicalismo que levaram, por exemplo, Barthes a proclamar a “morte do autor”. Vemos um eco dessa morte quando nos deparamos com a noção derridiana das assinaturas pessoais: girando em torno de conceitos como os de presença, ausência, iterabilidade e citacionalidade, Derrida constrói uma ferramenta teórica singular, ressaltando a disseminação do sentido para deslocar noções tradicionais de escrita e o lugar concedido à intenção do enunciador/autor no âmbito da comunicação. Estaria Derrida na linha do radicalismo de Barthes ao operar esses movimentos de desconstrução? Pretendemos, assim, discutir essas questões, de modo a fornecer uma reflexão a respeito dos usos das teorias derridianas na crítica literária contemporânea. Pretendemos avaliar em que medida o pensamento derridiano pode fornecer ferramentas teóricas eficientes para a crítica, incluindo aqui a crítica dita “humanista”. Seria mesmo Derrida um antihumanista, na acepção de Miller e Freadman?