AMILTON JOSÉ FREIRE DE QUEIROZ, EZILDA MACIEL DA SILVA
Esta comunicação - intitulada De sertões, rios e orientes – des(re)territorializações rizomáticas da alteridade latino-americana em Guimarães Rosa, José Maria Arguedas e Milton Hatoum - debruça-se na reflexão sobre a figuração da alteridade latino-americana nos romances Grande sertão: veredas, Os rios profundos e Relato de um certo oriente. Essas narrativas serão examinadas sob os auspícios críticos de Antonio Candido, Tania Franco Carvalhal, Silviano Santiago, Cornejo Polar, Benjamim Abdala Júnior, Angel Rama, Walter Mignolo, Marli Fantini, Luis Alberto Brandão, Myrian Ávila, Zilá Bernd, Maria Zilda Ferreira Cury, Eduardo Coutinho, Édouard Glissant, Homi Bhabha, Gilles Deleuze e Felix Guattari, Edward Said, Mary Louise Pratt e Paul Gilroy. Com o auxílio dessa sintaxe crítica, espera-se: 1) mapear os fluxos comunitários e as paisagens literárias; 2) cartografar os lugares do narrar dos romances, analisando como os narradores mediadores conectam geografias planetárias; 3) topografar as cenas do des(re)territorializar dos romances, examinando de que maneira os narradores figuram as errâncias, os limiares e os percursos transfronteiriços latino-americanos. Como lugares de passagens heterogêneas, os três romances viajam pelas águas do próprio e alheio, pintando a cartografia da paisagem brasileira e peruana, em movimento contínuo de des(re)territorialização do dentro-fora da rede de contato intercultural. A travessia das personagens, longe de separá-las, estigmatizá-las e engessá-las, testemunha, pontualmente, como o dentro-fora do nacional híbrido e o fora-dentro estrangeiro cindido encontram-se na porto simbólico da estrangeiridade latino-americana. A configuração desse lugar de estranhamento dentro de si mesmo consubstancia-se na dicção de vozes que deferem o jogo dinâmico de estar entre os labirintos dos mapas da multiplicidade de olhares. Habitando posições intervalares, os narradores e personagens dos romances movem-se entre passagens, itinerários e paisagens culturais que instauram a poética do dentro-fora e fora-dentro das redes de solidariedades latino-americanas plurais. Do trânsito pelo espaço medial, os narradores rosianos, arguedianos e hatounianos exploram a dinâmica do movimento para se des(re)territorializarem entre imaginários embalados pela dinâmica de subjetividades e histórias múltiplas. Em sua natureza performativa, os três romances pontificam a interação cultural em sua espessura local e global, impulsionando o fluxo da heterogeneidade e mutabilidade das vozes, dos imaginários, dos contatos e das rasuras do eu que narra e do eu narrado. Vistos como uma instância policromática do entre, as escritas de Rosa, Arguedas e Hatoum figuram, assim, os traços da multiplicidade linguística, cultural e ecológica através da travessia pela geografia da diferença latino-americana. Na interlocução via mobilidade cultural, os textos dos autores em questão apresentam-se como escritas e territórios literários em trânsito, cuja capilaridade discursiva permite uma guinada de leitura fecundada pela cartografia da des(re)territorialização da alteridade latino-americano. Essa cartografia passa, singularmente, pela zona da percepção das constelações rizomáticas dos encontros entre as culturas, línguas e experiências de deslocamentos supranacionais. Assim, é preciso traduzir as texturas verbais e epistemológicas do território da letra rosiana, arguediana e hatouniana. Nestes portos de passagem, estão disseminadas a dinâmica da des(re)territorialização rizomática do imaginário latino-americano, atuando como um convite contínuo para ampliar nossos exercícios críticos em torno dos estudos comparados alicerçados nas fronteiras do devir.