José Rosa dos Santos Júnior, Lígia Guimarães Telles
Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, no Estado de Mato Grosso, em 19 de dezembro de 1916 e “virou árvore” no dia 13 de novembro de 2014, aos 97 anos, em Campo Grande, capital sul-mato-grossense. Publicou seu primeiro livro, Poemas concebidos sem pecado, em 1937, mas o reconhecimento do público só aconteceu 43 anos mais tarde, nos anos 80. Assim como Guimarães Rosa, Manoel arquitetou uma dicção inovadora, plena de neologismos e, ao mesmo tempo, apresentando a língua portuguesa em suas ascendências mais profundas e primitivas. É do lócus existencial, o Pantanal vivido, sentido e experimentado e o Pantanal poeticamente representado, que Manoel de Barros herdou um gosto pelas águas e pelas coisas do chão. Para ele, a puerícia habitada no Pantanal lhe permitiu um lastro que só pode ser matéria de poesia se embaralhado com certo anseio de mexer com os vocábulos que adquiriu no colégio. As vivências, no pantanal do Mato Grosso, do cidadão Manoel consubstanciam e matizam, de maneira incisiva, a obra literária do poeta. Tais informações nos permitem afirmar que a obra poética de Manoel de Barros possui um caráter autobiográfico que o singulariza exatamente por se manifestar por meio de suas “memórias inventadas”. Tais memórias, parcialmente inventadas como toda e qualquer memória, dão o tom e a cor à produção poética do autor. Dessa forma, objetivamos refletir, por meio do corpus poético, o quanto a memória e as reminiscências ocupam um lugar no processo escritural de Manoel de Barros. Reminiscências, que se convertem em modulações autorais, de uma infância vivida no Pantanal, mas ressignificada pelos ditames da imaginação criativa.
Palavras-chave: Memória. Autoria. Manoel de Barros.