Tomando por base a reflexão da filósofa Marcia Tiburi – presente no livro Filosofia cinza: a melancolia e o corpo nas dobras da escrita (2004) – de que a produção filosófica e artística é resultante da “pulsão” melancólica, o presente artigo objetiva discutir como os poetas Manuel Bandeira e Ascenso Ferreira inscreveram, em suas respectivas poéticas, seus impasses com a modernidade. Especificamente, por meio das análises dos poemas Recife e O cacto – de Bandeira – e Cabra-cabriola e Cinema – de Ascenso –, investigaremos em que medida eles lançaram mão dos expedientes da memória e da imaginação para demarcar discursivamente uma reação aos impactos gerados pela modernidade nos seus respectivos campos de experiência histórico-cultural, social e afetiva. Para tanto, recorremos às noções de imaginação e de memória desenvolvidas pelo filósofo francês Paul Ricoeur no livro A Memória, a história e o esquecimento (2000), como também às reflexões acerca da memória e sua relação com Psicologia social, empreendidas por Ecléa Bosi em seu livro Memória e sociedade: lembranças de velhos (1979). Já, no que se refere às considerações acerca da modernidade e seus desdobramentos, lançamos mão das considerações de Marshall Berman, apresentadas em seu livro Tudo que é sólido desmancha no ar: aventura da modernidade (1982), e das do historiador Antonio Paulo Rezende, presentes no livro (Des)cantos modernos: histórias da cidade do Recife na década de vinte (1997).